sábado, 30 de março de 2019

Algo Parecido

Escorre o tempo que seguro e cabe em minhas mãos
Eu empresto o meu mundo pra te ter então
Você vai acreditar talvez
Ou senão queira partir de vez

E se eu falasse nessas coisas que vejo em você
Me atravessam num segundo sem eu entender
E tudo que me faz ver
E tudo que me faz ter

Aquilo que eu sinto por você
Parece ser maior
Que o destino que me passa e te passa
E há de ser um só

A gente é diferente quando sente
Mas pode ser que mesmo assim
A gente até se ajeite

Você bem que podia vir comigo
Para além do final dessa rua
O outro lado da cidade
Ou algo parecido

Estou livre com seu passo e aperto sua mão
Que me mostra o caminho pra te ter então
Com você quero partir de vez
Sem destino e sem lugar talvez

Despreocupo com futuro que ninguém prevê
O que entristece, tento esquecer
Isso tanto faz
Isso já não faz mal

segunda-feira, 26 de março de 2018

Ausente

A UM AUSENTE

"Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste."

__Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 12 de março de 2018

Dialética

"Amor é isto: a dialética entre a alegria do encontro e a dor da separação. De alguma forma a gota de chuva aparecerá de novo, o vento permitirá que velejemos de novo, mar afora.
Morte e ressurreição. Na dialética do amor, a própria dialética do divino.
Quem não pode suportar a dor da separação, não está preparado para o amor. Porque o amor é algo que não se tem nunca. É evento de graça.
Aparece quando quer, e só nos resta ficar à espera. E quando ele volta, a alegria volta com ele. E sentimos então que valeu a pena suportar a dor da ausência, pela alegria do reencontro."

__ Rubem Alves

sábado, 30 de setembro de 2017

Na sua estante

Te vejo errando e isso não é pecado,
Exceto quando faz outra pessoa sangrar
Te vejo sonhando e isso dá medo
Perdido num mundo que não dá pra entrar
Você está saindo da minha vida
E parece que vai demorar
Se não souber voltar ao menos mande notícias
'Cê acha que eu sou louca mas tudo vai se encaixar

'Tô aproveitando cada segundo antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo só você não viu

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo só você não viu

Você 'tá sempre indo e vindo, tudo bem
Dessa vez eu já vesti minha armadura
E mesmo que nada funcione
Eu estarei de pé, de queixo erguido
Depois você me vê vermelha e acha graça
Mas eu não ficaria bem na sua estante

'Tô aproveitando cada segundo
Antes que isso aqui vire uma tragédia

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres e outros risos
Eu estava aqui o tempo todo só você não viu

E não adianta nem me procurar
Em outros timbres, outros risos
Eu estava aqui o tempo todo só você não viu

Só por hoje não quero mais te ver
Só por hoje não vou tomar minha dose de você
Cansei de chorar feridas que não se fecham, não se curam (não)
E essa abstinência uma hora vai passar

quarta-feira, 8 de março de 2017

Saudades

Saudades

"Saudades! Sim.. talvez.. e por que não?...
Se o sonho foi tão alto e forte
Que pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão.

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar
Mais decididamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais saudade andasse presa a mim!"

Florbela Espanca, in O livro de Sóror Saudade (1923)

domingo, 22 de janeiro de 2017

Crazy for you

Swaying room as the music starts
Strangers making the most of the dark
Two by two their bodies become one

I see you through the smokey air
Can't you feel the weight of my stare
You're so close but still a world away
What I'm dying to say, is that

I'm crazy for you
Touch me once and you'll know it's true
I never wanted anyone like this
It's all brand new, you'll feel it in my kiss
I'm crazy for you

Trying hard to control my heart
I walk over to where you are
Eye to eye we need no words at all

Slowly now we begin to move
Every breath I'm deeper into you
Soon we two are standing still in time
If you read my mind, you'll see

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Ela

"Há tanta coisa nela que te enche os olhos, inunda suas emoções, te faz transbordar.

Aquele jeito de menina levada, garota inteligente, mulher decidida, ser humano que sonha. O sorriso que eterniza qualquer momento. A fala que te segura por instantes mágicos. O modo como compartilha sua espiritualidade. A força como introduz no seu cotidiano a leveza das coisas simples. O escutar.

[É assim que ela se anexa em minha história]

Não se preocupe com o tempo cronológico.
Vai chegar sem alarde, abrindo a porta com tudo, jogando suas malas no canto da sala, se atirando no sofá, pedindo um copo d'água. Respirar!

Em seguida... ela vai te encarar nos olhos e dizer que se sente em sua nova morada. Que ali ela vai construir novos sonhos, novos planos. E é onde ela depositará um novo amor que insiste em ser praticado. Alimentando as suas próprias expectativas. Fazendo brilhar a sua ânsia de viver os laços com genuinidade.
Ela se sentirá descansada nesse momento.

E levitando ela te dará um abraço e um beijo terno.

E assim... você perceberá que tudo ao seu redor já possui o tom que ela emite. Perceberá que existe no cantinho da sala um vasinho com flores amarelas. E como elas... você vai florir.
E num piscar de olhos... como num passe de mágica... você se vê com a melhor poesia no colo... com o melhor sorriso bobo na alma... e com a melhor paz sem hora marcada."

__Angélica Luizz